Observatório do audiovisual potiguar

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Você provavelmente já viu esse logotipo nos créditos de alguns filmes e séries filmados nos Estados Unidos, certo? Ele se trata do símbolo do estado da Georgia, que possui uma comissão fílmica responsável por viabilizar produções famosas de Hollywood, como “Vingadores: Ultimato” e “Stranger Things”, gerando uma grande quantidade de empregos diretos e indiretos na região. É possível perceber que essa comissão foi essencial para o estado, e também serviu como um atrativo para os produtores das obras; Mas, o que isso tem a ver com o Brasil, e principalmente com o Rio Grande do Norte? 

Quando vemos esses  símbolos nos créditos de produções audiovisuais significa que aquele produto recebeu incentivos daquela localidade, seja da parte logística ou fiscal. Em troca, essas produções (não só) colocam o nome do local nos créditos, o que além do reconhecimento também serve para fomentar o turismo local e o mercado audiovisual daquela região.  Um exemplo recente disso foram os  créditos finais do filme Bacurau, dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano  Dornelles e lançado em 2019. O filme, que foi gravado no sertão do Seridó no Rio Grande do Norte e gerou cerca de 800 empregos diretos e indiretos durante a produção.

Este  trabalho de mediação entre produtores audiovisuais e instituições públicas, que podem lhes dar algum subsídio financeiro ou logístico, pode ser facilitado através das Film Commissions – ou comissões fílmicas. Mas o que são essas comissões, e como elas podem ser aplicadas na realidade potiguar?

O QUE É FILM COMMISSION?

Uma Film Commission é uma organização sem fins lucrativos, majoritariamente ligada a órgãos públicos, que atua na atração e suporte de produções audiovisuais para uma certa localidade. Não há uma regra para a região de atuação de uma comissão fílmica, pois existem as que atuam a nível municipal como a SPFilm (São Paulo) até as que atuam a nível nacional, como a New Zealand Film Commission (Nova Zelândia).

Essas organizações promovem ligações, quase como uma triangulação, entre produtoras audiovisuais, instituições públicas e privadas que pretendem subsidiar essas produções e a população local, atraindo essas produções como forma de trazer retorno financeiro para aquele local, gerando empregos e promovendo o turismo fílmico. Voltando ao exemplo da  Georgia; quantos passeios para visitar os locais onde foram gravadas cenas de Stranger Things, criação dos Irmãos Duffer lançada em 2016  devem existir? Ou em Nova York, com milhares de pessoas visitando o Central Park e relembrando as cenas de Esqueceram de Mim 2, dirigido por Chris Columbus em 1992?

Segundo estudo de Rute Paes, Natália Korossy e Priscila de Melo, tais comissões são fundamentais para acelerar os processos de produção. A princípio, o  trabalho das comissões pode parecer superficial, mas até a criação da Film Commission de São Paulo (SP Film) as produções audiovisuais precisavam esperar até 30 dias para obter autorização de gravar na cidade, o que muitas vezes afastava produtores e fazia com que um dos maiores centros econômicos da América Latina não fosse “amigável” à produção audiovisual – ou seja, não era uma cidade film friendly

E O RIO GRANDE DO NORTE?

Trazendo as experiências para o contexto potiguar, algumas produções já tiveram o Rio Grande do Norte como cenário,  como as novelas Tieta (1989) e Flor do Caribe (2013), produzidas pela Rede Globo, e também o  já citado filme Bacurau (2019). Até hoje, é comum ver pessoas que assistiram às novelas, reproduzirem cenas icônicas dos personagens nas paisagens, a exemplo de Tieta nas Dunas de Genipabu. Outro exemplo foi quando Bacurau colocou o Sertão do Seridó no mapa  com o lançamento do filme e  de um documentário sobre a produção. Estes podem parecer movimentos pequenos, mas que colocaram  cenários tipicamente potiguares, no imaginário nacional, e deram oportunidade a profissionais locais e pessoas comuns  de participarem de grandes produções, seja como prestadores de serviços à parte (cozinheiros, costureiros, bugueiros) ou serviços diretamente ligados à produção (figurantes, maquiadores, atores, pessoas que participaram das atividades técnicas do audiovisual) e que poderiam ser muito maiores se a comissão fílmica  existisse naquela época.

O Rio Grande do Norte possui uma comissão fílmica, a Potiguar Film Commission, que foi criada apenas em 2022, a partir da Lei 11.214/2022 proposta pela deputada Isolda Dantas (PT-RN), decretado pelo legislativo e sancionado pela governadora Fátima Bezerra (PT-RN) no dia 22 de julho de 2022. Segundo o ofício que sanciona a lei, ela tem o objetivo de “apoiar e incentivar a produção do setor do audiovisual no Estado do Rio Grande do Norte”. Em outubro do mesmo ano, a vereadora Brisa Bracchi (PT-RN) propôs à câmara de vereadores de Natal a criação da Film Commission de Natal, que teria como foco o apoio nas produções sediadas na capital potiguar, que foi aprovada pela câmara municipal.

Ainda não existem  dados concretos ou levantamentos sobre produções realizadas no estado do RN ou na cidade de Natal após a criação das comissões fílmicas, e também não é possível mensurar a quantidade de produções iniciadas a partir da criação , por serem tão recentes.  No entanto, levando em conta alguns dados das cidades brasileiras já consolidadas no ramo, como o Rio de Janeiro, que arrecadou cerca de 24 milhões de reais em 2019, e São Paulo, que gerou quase 18 mil empregos e um orçamento de 340 milhões de reais também em 2019, é possível projetar um crescimento significativo no mercado audiovisual potiguar, a partir dessas e outras medidas públicas de incentivo às produções.

*Maria Clara de Lima Souza é estudante do curso de Comunicação Social – Audiovisual da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Este artigo foi elaborado como parte das atividades do componente curricular Economia Política do Audiovisual, ministrado pela professora Janaine Aires, em 2023.1. E foi editado pela monitora Cecília Melo, estudante de Jornalismo da mesma instituição. 

COMO CITAR: SOUZA, Maria Clara de Lima. O que são as comissões fílmicas e como elas podem transformar a economia? Observatório do Audiovisual Potiguar, 2023. 

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