Observatório do audiovisual potiguar

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‘FILM COMMISSIONS’ COMO INSTRUMENTO PARA O MARKETING DE LUGAR: O caso do Rio Grande do Norte

Emmily Moreira e Isabele Dantas

Assim como empresas, produtos e serviços, os lugares também são passíveis do olhar das pessoas, bem como do marketing. De acordo com o pesquisador Peter Van Ham, autor de “Place Branding: The State of the Art” (2008),  a  imagem e a reputação são construídas a partir da confiança e da satisfação do consumidor. Dessa forma,  os indivíduos são marcados por experiências, e para que elas se concretizem, os lugares precisam tomar uma série de medidas e de cuidados com sua própria “venda”.

Para o pesquisador e consultor de políticas internacionais  Simon Anholt, que escreveu “Competitive Identity: The New Brand Management for Nations, Cities and Regions”,  a natureza acelerada da globalização exige que os países, cidades e regiões concorram entre si, em busca de atrair públicos diversos para fomentar o lucro e o reconhecimento de outras nações. Dessa forma, Anholt acredita que é  fundamental enfatizar os aspectos, os bens e as experiências exclusivas que um determinado lugar, como o Rio Grande do Norte, por exemplo,  tem a oferecer.

Assim, essas marcas de lugar existem independente das estratégias que os governos empregam para fomentá-las. Segundo Ying Fan, autora de “Branding the nation: Towards a better understanding”, essas marcas de lugar se fazem presentes no próprio imaginário das pessoas, que fazem associações quando ouvem o nome de determinada localidade.

Com isso, tendo em vista que a imagem e a marca dos lugares são compostas por experiências,, as produções audiovisuais também representam e carregam em si uma bagagem histórica, cultural e emocional, bem como criam um espaço fértil para futuros investimentos, visitações turísticas, que movimentam o mercado local e espalham o conhecimento e a defesa da marca.

FILM COMMISSIONS E O MARKETING DE LUGAR

A indústria cinematográfica é uma forma poderosa de arte, entretenimento e comunicação que transcende fronteiras culturais e geográficas. Por trás dos filmes que nos encantam nas telas, há um ecossistema complexo de criatividade, planejamento e logística. Nesse contexto, as Film Commissions assumem um papel crucial, atuando como facilitadoras e promotoras da produção cinematográfica em uma determinada região ou cidade. 

Uma de suas principais funções é atrair produções audiovisuais para sua região. Elas desempenham um papel de destaque na promoção de locações disponíveis, oferecendo informações detalhadas sobre paisagens, infraestrutura e incentivos fiscais locais. Ao funcionar como um guia especializado, as Comissões conectam produtores e diretores a locações que se encaixam em suas histórias, economizando tempo e recursos valiosos. Essa promoção eficiente das locações permite que as regiões se tornem destinos atraentes para a indústria, resultando em um aumento do turismo, exposição global e oportunidades de negócios.

Dessa forma, as  Film Commissions atuam na facilitação das filmagens, estabelecendo parcerias estratégicas com governos locais, agências de turismo e empresas de hospedagem para criar um ambiente propício às produções. Ao auxiliar na obtenção de permissões, licenças e autorizações necessárias, bem como na coordenação de serviços essenciais como segurança, transporte e acomodação, as Comissões agilizam o processo de produção, permitindo maior empenho no desenvolvimento criativo. Além disso, o impacto econômico gerado pelas filmagens é substancial, uma vez que os gastos da equipe de produção local impulsionam a economia regional, beneficiando hotéis, restaurantes, artesãos, lojas e outros setores.

Outro aspecto importante é o apoio ao desenvolvimento de talentos, com participação ativa na promoção de programas de capacitação, financiamento e coprodução, incentivando o crescimento da indústria cinematográfica regional. Ao fornecer recursos e informações, as Comissões criam oportunidades para cineastas emergentes e produtores locais, permitindo que suas vozes sejam ouvidas e suas histórias contadas. Isso não apenas enriquece a diversidade da produção global, mas também preserva e promove a cultura, gerando identidade, pertencimento e orgulho na comunidade.

Nesse sentido, esse órgão de apoio também é essencial na criação de uma rede de parcerias e colaborações internacionais, que representam suas regiões em eventos e festivais voltados à obras audiovisuais, promovendo oportunidades de negócios e  intercâmbios culturais entre diferentes países.

O CASO DO RIO GRANDE DO NORTE

O Projeto de Lei (PL) Nº 11214 de 22 de Julho de 2022 que estabeleceu a Potiguar Film Commission no Rio Grande do Norte foi aprovado pelos deputados na Assembleia Legislativa,  e foi de iniciativa da deputada estadual Isolda Dantas, do Partido dos Trabalhadores (PT). O projeto foi baseado em diretrizes com o objetivo de estimular o uso de locações do estado em produções nacionais e internacionais e segundo a Lei criadora,“promove a desburocratização da atuação e da permissão de filmagens locais”. A lei também define que a Comissão do Filme Potiguar poderá: “celebrar acordos com entidades relevantes, sejam nacionais ou estrangeiras; incentivar a transformação do estado em um polo de gravações e atração audiovisual; aumentar a pesquisa e o estudo sobre o impacto econômico da atividade audiovisual nas locações utilizadas; servir como ponto de informação, conhecimento e consultoria para o setor; e, além disso, fomentar a criação de Comissões a níveis municipais”. 

Em outubro  do mesmo ano da aprovação, a Câmara de Vereadores de Natal aprovou a criação de uma Comissão de Filmes Potiguar. O PL nº 605/2021 foi criado pela vereadora Brisa Bracchi (PT) e visa aumentar a atratividade da cidade de Natal para a produção cinematográfica, garantindo sua eficácia na atração e acomodação de atividades de filmagem. 

Segundo Bracchi, “as produções audiovisuais já realizadas em Natal são de qualidade reconhecida internacionalmente. Neste sentido, esse protagonismo precisa ultrapassar o esforço unilateral dos produtores audiovisuais, precisa ser uma política pública. Assim, nosso Projeto de Lei da Film Commission de Natal busca uma maneira de implementar esta política, orientando e normatizando como se dará a participação da Administração Pública na concretização de uma rede de apoio e incentivo à produção audiovisual e aos seus profissionais”. 

Dessa forma, a  meta é participar ativamente de mercados e festivais audiovisuais internacionais, promovendo efetivamente Natal como um destino internacional de destaque para projetos audiovisuais. De acordo com uma nota da Câmara de Vereadores, publicada na época da aprovação, a expectativa é de que esses esforços tragam vantagens e benefícios para a cidade do Natal e a cena audiovisual local.

A vereadora também comentou que o projeto visa dar enfoque aos profissionais do município. “Um dos pontos mais importantes do Projeto da Comissão é permitir que a cidade do Natal seja o verdadeiro lugar a ser utilizado nas produções, a ideia central é que a nossa cidade seja apresentada em todas as produções decorrentes da execução desta política. Este foi o percurso que fizemos nessa elaboração, tentamos compreender como os profissionais do audiovisual de Natal se diferenciam dos demais e foi justamente na compreensão da importância da cidade, do lugar, na narrativa das produções. Logo, a execução do Projeto da Comissão perpassa e é diretamente entrelaçado pela relação das produções com a cultura, população e recursos da Cidade do Natal”, aponta Brisa.

Apesar do esforço, o projeto recebeu um veto por parte do Poder Executivo, no entanto, a vereadora relata que a situação pode ser revertida na Câmara Municipal. “O veto já foi apreciado pela Comissão de Legislação, Justiça e Redação final e já tem parecer pela derrubada deste veto. Agora nós vamos debater esse veto no Plenário da Casa para que o projeto possa ser promulgado. Apenas após este trâmite legislativo é que podemos iniciar o trabalho pela efetivação da Lei, demandando o Poder Executivo para criar os meios necessários à implantação”, diz Bracchi.

Na medida em que as  Film Commissions se estabelecem, seja no estado ou no município, permitem o apoio à produção audiovisual, que por sua vez aumenta a regularização, movimenta a economia local e atrai investimentos. Dessa forma, essas ações podem auxiliar no reconhecimento do estado, bem como do município, na manutenção ou desenvolvimento de uma imagem e reputação que satisfaça os gestores e faça jus a existência do estado.

 

*Emmily Moreira é graduada em Relações Internacionais pela UnP e estudante do curso de Comunicação Social – Audiovisual da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E Isabele Dantas é estudante de Comunicação Social – Audiovisual da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Este artigo foi elaborado como parte das atividades do componente curricular Economia Política do Audiovisual, ministrado pela professora Janaine Aires, em 2023.1. E foi editado pela monitora Cecília Melo, estudante de Jornalismo da mesma instituição. 


COMO CITAR: MOREIRA, Emmily; DANTAS, Isabele. Film Commissions” como instrumento para o marketing de lugar: o caso do Rio Grande do Norte. Observatório do Audiovisual Potiguar, 2023.

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